A sarcopenia é caracterizada pela perda progressiva da massa, força e/ou função muscular e está comumente associada ao processo de envelhecimento. Sua etiologia é multifatorial, sendo a alteração da síntese de proteínas, a proteólise, a redução da integridade neuromuscular e o aumento do processo inflamatório, alguns dos determinantes do aparecimento e da progressão desta condição clínica.
A má nutrição e o sedentarismo podem agravar o quadro, em especial em idosos com diabetes tipo 2. Os mecanismos envolvidos ainda não estão totalmente esclarecidos, mas diversos estudos têm identificado um maior declínio da massa muscular em idosos com diabetes, quando comparados com idosos sem a patologia.
Diversas estratégias nutricionais têm sido pesquisadas visando a promoção do anabolismo protéico e a prevenção da redução da massa muscular. Dentre elas, a adequação calórico-protéica da alimentação, somada em especial ao exercício resistido, tem sido a mais promissora.
Destaca-se que, além do aumento do tecido adiposo e da redução da massa muscular decorrentes do envelhecimento, outras alterações fisiológicas podem comprometer o estado nutricional desses indivíduos, tais como a diminuição da função gastrintestinal e da percepção sensorial (paladar, olfato, visão, audição e tato), associadas ou não à inabilidade física para aquisição e preparo das refeições. Podem também ocorrer alterações no processo mastigatório, disfagia e a presença de doenças que interferem no apetite, no consumo e também, na absorção dos nutrientes.
Além do suporte calórico-protéico, outras abordagens alimentares na sarcopenia têm sido estudadas. É o caso da suplementação de leucina, vitamina D e creatina, conforme descrito a seguir:
Leucina
A leucina é um aminoácido de cadeia ramificada que tem sido considerado um farmaconutriente na prevenção e tratamento de diversas situações clínicas, como a sarcopenia e o diabetes tipo 2. Com a capacidade de inibir a proteólise e estimular a síntese proteica pela modulação de elementos que atuam na tradução da via de sinalização da insulina, a suplementação desse aminoácido tem sido estudada como estratégia no tratamento da sarcopenia.
Estudos recentes realizados em humanos, demonstraram que a co-ingestão de proteína hidrolisada e leucina em cada refeição principal melhora o controle glicêmico, atenuando a hiperglicemia pós-prandial em indivíduos com diabetes tipo 218. Em contrapartida, em estudo recente que avaliou a suplementação de leucina por 6 meses em 60 idosos com diabetes tipo 2, (dosagem de 2,5g - 3 vezes ao dia durante as principais refeições, totalizando 7,5g/dia) não foram observadas melhorias na sensibilidade à insulina e no controle glicêmico. Contudo, como crítica ao estudo, está o número reduzido de participantes e o fato destes apresentarem um consumo prévio de proteína dietética adequado, ou seja, dentro das faixas de recomendação para idosos com função renal preservada (0,8 – 1g de proteína/kg/peso)1.
As pesquisas direcionadas à sarcopenia são, em sua maioria, realizadas com a suplementação de leucina via oral (cápsula ou bebida industrializada). Como exemplos de alimentos ricos nesse aminoácido estão os ovos, carnes, peixes, soja, quinoa, leites e derivados.
Vitamina D
A deficiência de vitamina D está associada à redução da força e do anabolismo muscular. Em um estudo transversal em pacientes ambulatoriais com mais de 65 anos de idade, realizado na Suiça, Bischoff e col.19 encontraram uma correlação positiva entre a força muscular avaliada pela potência dos músculos extensores do joelho (LEP) e os níveis de 1,25-dihidroxivitamina D em homens e mulheres. Após ajustamento para idade, a LEP foi menor nos indivíduos com deficiência de vitamina D (25OHD< 30nmol/L). Além disso, a deficiência de vitamina D está envolvida na diminuição da secreção de insulina e no aumento da degradação muscular.
Creatina
A creatina tem sido amplamente estudada, tanto em adultos jovens como em idosos sarcopênicos. Trata-se de um aminoácido encontrado no músculo esquelético e sintetizado endogenamente pelo fígado, rins e pâncreas a partir da glicina e arginina. Também pode ser obtido via alimentação, especialmente pelo consumo de carne vermelha e peixes. Sua principal função é o fornecimento rápido de energia durante a contração muscular, através de reação catalisada pela enzima creatina quinase. Além disso, a creatina influencia na regulação das células satélites e auxilia no aumento da força e da hipertrofia muscular, sendo eficiente em idosos ou pessoas acometidas por doenças degenerativas neuromusculares.
A suplementação de creatina está descrita nas recomendações da The Society for Sarcopenia, Cachexia and Wasting Disease, que ressalta a importância de serem realizados mais estudos a longo prazo com a população geriátrica. Além disso, grande parte das pesquisas não é direcionada a idosos com diabetes, sendo necessários mais estudos que assegurem tal aplicação terapêutica para esse público.
Considerando que a sarcopenia é uma das variáveis utilizadas para definição da síndrome de fragilidade, conferindo maior risco de quedas, fraturas, diminuição da capacidade funcional e mortalidade, a terapia nutricional contempla um importante papel na abordagem não farmacológica, juntamente com a atividade física. Um adequado controle glicêmico e as mudanças no estilo de vida são medidas essenciais para a prevenção e/ou reversão do quadro clínico quando instalado.